Som e fúria

Vivemos num mundo de muitas vozes. Muita informação. Muito barulho por nada. Tempestades em copo d'água. Uma verborragia desenfreada. Parece que precisamos falar e ouvir o tempo todo. Ouvir a última do vizinho. As notícias do dia. Ouvir as sirenes, buzinas, o lamento do vencido, a comemoração do vencedor. A TV ligada por hábito. Ouvir e não calar. Falar sobre si. Sobre os outros. Sobre a última tragédia. Sobre o jogo de futebol. Sobre a previsão do tempo.

Parece até que o silêncio é pecado.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Oi???




Houve um tempo em que as pessoas que possuíam uma linha telefônica eram importantes e respeitadas. Nesse tempo – e olha que nem faz tanto tempo assim – não existiam ainda telefones públicos nas ruas e o celular era algo muito, muito distante. Uma das lembranças mais remotas da minha infância remete à casa de meus avós, que eram os únicos do bairro que tinham telefone. Lembro da vizinhança vez ou outra pedindo para fazer alguma ligação. Lembro do aparelho, que era verde água e não tinha botões, mas sim uma roda numérica. Um aparelho inacessível para as crianças. Um aparelho importante, usado apenas para assuntos importantes. Eram pessoas de sorte os meus avós, porque podiam girar a roda numérica do telefone e fazer uma chamada para onde bem entendessem. Devia ser bom ter uma linha telefônica naquela época.

Hoje as coisas estão bem diferentes, como todos bem sabem. O telefone se popularizou, os orelhões estão por todos os cantos, sem falar nos celulares, que viraram praticamente uma praga urbana. E os donos de linhas telefônicas, que agora as utilizam não apenas para fazer ligações, mas também para acessar a internet, por exemplo, perderam um bem muito precioso: o respeito. Falo do respeito como consumidor de um serviço oferecido pelas companhias telefônicas. Falo dessas grandes corporações, preocupadíssimas com marketing e propaganda, mas tão esquecidas dos seus deveres e, principalmente, dos direitos do seu consumidor.

Nunca fui tão desrespeitada e tão lesada como consumidora quanto nos últimos meses. Impotente talvez seja a palavra correta. Estou há quatro meses sem acesso a internet devido a um erro da Oi, ex Brasil Telecom. Se fosse um único erro talvez até fosse mais fácil de tolerar. O problema é que os erros vêm se acumulando mês a mês e nenhuma atitude é tomada para resolver o meu problema.

Acompanhem a via crucis resumida:
Ato 1: A companhia Oi mudou o meu plano de internet (o qual mantenho há mais de cinco anos) chamado turbo 400 para um serviço chamado Mega turbo que é mais rápido e custa mais que o dobro do preço. Ah, isso tudo sem a minha solicitação.

Ato 2: Ao ligar para o SAC e ser atendida por uma pessoa com intelecto duvidoso, fui informada que o problema estava resolvido e que estava com o meu plano antigo ativo novamente. Resultado: cancelaram a minha internet sem a minha solicitação.

Ato 3: Ligo cinco vezes para o 0800 tentando explicar os problemas causados por eles mesmos. Fui passada para sete ramais diferentes e desligaram na minha cara três vezes ( o que fez com que eu tivesse que recomeçar a ligação do zero). Escutei um musiquinha irritante de espera seis vezes, com o recorde de quatro repetições consecutivas até alguém resolver me atender.

Ato 4: Quando, finalmente alguém me atende informa que a internet foi mesmo cancelada e agora terei que ser transferida para o setor de vendas para solicitar novamente o serviço.

Ato 5: O ramal do setor de vendas nem me atende e ouço uma gravação que diz que não há “porta” disponível para a minha região.Como não há porta se utilizo o serviço há mais de cinco anos e o estava utilizando há algumas horas atrás?

Ato 6: Ligo de novo, escuto a musiquinha irritante de novo, me passam para mais atendentes que obviamente não podem resolver o meu problema e vão me passando adiante até eu cansar de explicar tudo de novo. Dizem que vão deixar meu nome na espera e assim que abrir porta vão me ligar (ou seja, “você vai ficar sem internet até resolvermos devolver seu serviço que NÓS mesmo retiramos sem a sua autorização”).

Ato 7: Quase dois meses depois ligam dizendo que abriu uma porta de 2 mega caso eu tenha interesse (por um preço exorbitante). Digo que quero apenas o mesmo serviço que eu já possuía, chamado turbo 400. A atendente diz que neste caso terei que esperar abrir uma porta com esta velocidade.

Ato 8: os telemarketings da Oi continuam insistindo para que eu contrate um serviço mais caro do que eu já possuía. Sustento que não quero.

Ato 9: Resolvo colocar o caso na justiça. Um técnico de uma empresa terceirizada aparece para medir se é possível instalar o internet de 2 mega, mesmo eu já tendo bradado aos quatro ventos que não quero essa velocidade. Por sorte o rapaz é um conhecido meu que me explica a maracutaia: eles não estão mais fazendo pacotes de velocidades baixas como a que eu tinha. Ele mediu e constatou que NÃO É POSSÍVEL o acesso com a velocidade de 2 mega da minha casa, porque fica muito longe da central. Fez a gentileza de instalar o turbo 400. Parecia estar tudo resolvido, mas a felicidade só durou exatas duas semanas.

Ato 10: Num sábado no qual precisa finalizar um trabalho de aula e, consequentemente do acesso a internet, a conexão não estava funcionando novamente. Incrédula, parti para o 0800. “Não consta internet instalada na sua linha, senhora”.

Ato 11: GRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR!!!!

Ato 12: Depois de milhares de investidas por telefone, fui até a loja da Oi na minha cidade. A atendente, devidamente acéfala, como manda o padrão, disse que não poderia fazer NADA para me ajudar. Aconselhou eu processar a companhia depois de ouvir a história.

Ato 13: As contas de telefone destes três meses vieram com valores incorretos. Uma delas cobra pelo serviço Mega turbo no mês em que eu já estava sem conexão. A última cobra uma taxa chamada “infidelidade” no valor de 200 reais. Só pode ser pegadinha!

Ato 14: Cá estou eu, há TRÊS MESES sem acesso a internet por um erro da Oi. E nem sinal de resolução. O processo está em andamento.

Vale lembrar que a sensação de impotência frente ao problema se agrava pelo fato de nenhuma outra operadora oferecer o serviço de internet na minha região. Por eu precisar do acesso a internet para fazer o trabalho freelance de meio turno que executo em casa. E de saber que, se não pagar as contas com valores absurdos que estão sendo cobrados indevidamente, é capaz de cortarem até o telefone.

É por isso que somos terceiro mundo. Não há respeito pelo cidadão e nem pelo consumidor. As grandes corporações se comportam como bem entendem e nós continuamos de mãos atadas. De que vale a minha fúria? Tudo continua igual. Só espero que, ainda que tarde, a justiça não falhe nesse caso.