Som e fúria

Vivemos num mundo de muitas vozes. Muita informação. Muito barulho por nada. Tempestades em copo d'água. Uma verborragia desenfreada. Parece que precisamos falar e ouvir o tempo todo. Ouvir a última do vizinho. As notícias do dia. Ouvir as sirenes, buzinas, o lamento do vencido, a comemoração do vencedor. A TV ligada por hábito. Ouvir e não calar. Falar sobre si. Sobre os outros. Sobre a última tragédia. Sobre o jogo de futebol. Sobre a previsão do tempo.

Parece até que o silêncio é pecado.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Pessimismo Natalino



Xuxa e Roberto Carlos e seus especiais de final de ano. Estradas lotadas rumo ao litoral. Shoppings abarrotados de gente. O Jornal do Almoço anuncia: os estoques da Barbie As Três Mosqueteiras acabaram (!).

E o Natal, que era para ser uma coisa boa, consegue me deixar assim, com ares de quem não gosta do Natal. Talvez por ser uma pessimista inveterada, não consiga ver além das bolinhas coloridas e Papais Noéis de barba falsa suando em suas roupas de inverno. Talvez eu devesse apenas ignorar as filas gigantescas em frente as lojas, o trânsito caótico ou a correria desenfreada para comprar presentes. Ou talvez seja eu que esteja interpretando mal o famoso espírito natalino.

Enquanto crianças são cravejadas por agulhas ou jogadas do alto de prédios, alguns políticos andam literalmente enchendo os bolsos – e as cuecas – com o nosso dinheiro. Ainda assim seguimos como se nada estivesse acontecendo, parcelando a felicidade momentânea em 12x sem juros, enchendo as horas e os minutos que faltam com palavras, sons, presentes. Sentindo a obrigação de ser solidário, de amar o próximo e ajudar as pessoas, como se apenas durante essa época mágica pudéssemos fazer alguma coisa para ajudar.

(Take 1: Gravando! Alguém lá, coloca a roupa de Papai Noel e vamos entregar um brinquedinhos na vila. Close nos sorrisos das crianças de dentes cariados. Geral da criançada abrindo os pacotes. Trilha dramática. Pronto. Consciência limpa o resto do ano. Está feito o milagre de Natal.)

É assim, mas não deveria. E eu fico estranha, fora de foco. Parece que não me encaixo no meio dessas luzinhas, neve artificial e sorrisos congelados.