Som e fúria

Vivemos num mundo de muitas vozes. Muita informação. Muito barulho por nada. Tempestades em copo d'água. Uma verborragia desenfreada. Parece que precisamos falar e ouvir o tempo todo. Ouvir a última do vizinho. As notícias do dia. Ouvir as sirenes, buzinas, o lamento do vencido, a comemoração do vencedor. A TV ligada por hábito. Ouvir e não calar. Falar sobre si. Sobre os outros. Sobre a última tragédia. Sobre o jogo de futebol. Sobre a previsão do tempo.

Parece até que o silêncio é pecado.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Vergonha alheia? Eu tenho.



O que acontece quando se encontram um pré-adolescente arrogante metido a garanhão que só sabe falar em inglês com um exemplar típico da mulher brasileira burra e sensual que mal sabe falar português?

A resposta está em um vídeo com mais de 680 mil visualizações em duas semanas, onde a brasileira Sabrina Sato entrevista Justin Bieber, o fenômeno (?) teen que ainda nem mudou de voz, mas já sabe muito bem ser estúpido e grosseiro. Para quem não lembra da “apresentadora” do Pânico na TV e ex- BBB, cabe ressaltar que até hoje seu maior talento consiste em exibir seu corpo e sua ausência de cérebro em horário nobre.

Achei o vídeo muito mais triste do que engraçado e o maior sentimento que os 11min de interação entre o moleque, a gostosa e a intérprete me provocaram foi o de “vergonha alheia”. A começar pelos trajes sumários da apresentadora, que por pouco não fez top-less no final da entrevista. Além disso, vale destacar sua reação quase-retardada quando viu o menino pela primeira vez e a sua insistência em não “utilizar” a tradutora e ler as perguntas com um inglês tão tosco que até minha prima de 8 anos, que nunca estudou o idioma, seria capaz de superar.

Ok , o menino é uma estrelinha com muita fama e nada de maturidade, mas ser humilhada e continuar rindo e achando tudo “fofo” e divertido é um pouco demais para a minha compreensão. Fiquei com vergonha de ser brasileira e de ser mulher. Mas, pior do que isso, fiquei com vergonha maior por saber que esse programa vai ao ar toda a semana repetindo a mesma fórmula e não causa estranhamento. A gostosa-burra que faz rir está naturalizada e justificada na nossa sociedade porque afinal, ela está ganhando MUITO dinheiro para desempenhar esse papel.

O contracheque no final do mês é a carta de alforria que justifica tudo. Seria a Sabrina Sato burra, ou burras seríamos nós, mulheres que trabalham o mês inteiro e precisam de alguns anos para juntar a quantia que a apresentadora fatura em minutos? Sim, ela trabalha honestamente. Ela não faz mal a ninguém. E tem a liberdade de utilizar o seu corpo para aquilo que bem entender.

O que esquecemos é que isso deixa de ser um problema pessoal a partir do momento em que essas mulheres se transformam em figuras públicas. Pergunte às meninas em idade escolar o que elas querem ser quando crescerem e ouvirá em coro: modelo, atriz, cantora, apresentadora. Afinal, para isso não é necessário estudar, e aí estão Sabrina Sato e tantas outras mulheres-fruta para confirmar o que eu digo.

Será que o dinheiro justifica tudo? Parece que hoje em dia vale mais a pena malhar e fazer chapinha do que trabalhar em qualquer profissão que exija o uso do cérebro ou outras habilidades além de rebolar. “Eu podia estar roubando, eu podia estar matando...” mas estou prostituindo a minha dignidade por uns trocados. E viva! Viva a liberdade que as mulheres tanto lutaram para conquistar transformada em comédia de mau gosto.

Para quem não viu o vídeo: clique aqui.